sexta-feira, 13 de agosto de 2021

DIA DO FICO?

A história costuma se repetir, ainda que de forma torta, às vezes mal-arranjada, mas vira e mexe ela volta a acontecer.

Aos 9 dias do mês janeiro de 1822 o Imperador D. Pedro I decidiu permanecer no Brasil, contrariando ordens vindas de Portugal. O célebre Dia do Fico foi antecedido por forte movimento que defendia sua permanência no país e contou com o apoio de 8 mil assinaturas.

Hoje se iniciou um movimento que pretende emular o Dia do Fico. No palco, fazendo as vezes de D. Pedro I, temos o presidente da OAB/SC. Compondo o cenário, a OAB/SC seria o Brasil. Paro aqui as correlações, ciente de que já fui longe e injusto demais com a nossa história.

Alguns dos mais próximos e fiéis prosélitos do presidente da OAB/SC estão procurando conselheiros(as) seccionais para “convencê-los(as) a convencer” o presidente a disputar a reeleição no pleito de novembro próximo.

Como na campanha eleitoral de 2018 o então candidato e hoje presidente assegurou aos eleitores, em seu Plano de Gestão, a manutenção do “compromisso de não reeleição” para permitir “constante oxigenação e participação da maior pluralidade de colegas na gestão da OAB/SC”, a intenção e a decisão de concorrer novamente à presidência não poderiam mesmo partir, pelo menos publicamente, do próprio candidato. Afinal, até Maquiavel – que descartava a necessidade de se manter a palavra dada – já sabia que tal conduta jamais pode ocorrer sem que se apresente um bom pretexto. Rasgar o discurso, portanto, demanda imenso clamor público; uma vontade coletiva quase incontrolável de manter-se o regente no trono.

Ainda que obliquamente, a história está prestes a se repetir, pois pressinto que em breve teremos o Dia do Fico na seccional catarinense da OAB, ou melhor, um arremedo de Dia do Fico. O presidente “capitulará” diante do artificial clamor e seu projeto pessoal será vendido ao eleitor como obra coletiva. Resta saber quem aceitará ficar para a história como partícipe de tão triste empreitada.

Eu não estava no Paço Imperial quando D. Pedro I anunciou que ficaria, mas eu e várias testemunhas sabemos de um fato localmente relevante: o presidente da OAB/SC decidiu concorrer à reeleição há muito, muito tempo. E mais, anunciou seu propósito há várias semanas à presidente da CAASC, com o compromisso de que ela seria candidata à presidência da seccional em 2024. Infelizmente, dois gestores eleitos, focados exclusivamente em seu projeto de poder, decidiram desonrar a palavra dada ao eleitor que neles acreditou e ambos concorrerão à reeleição. Deplorável.

Como aprendemos nos bancos escolares, o Dia do Fico precedeu a Independência do Brasil. Se é para copiar a história de verdade, torço para que a Advocacia Catarinense se torne independente de promessas vãs, da velha política e do vale-tudo pelo poder.