Nunca despreze a força de um adversário. Nem mesmo seus argumentos. Eles sempre nos ensinam algo e, melhor de tudo, nos fazem pensar.
Dois
dias atrás, um dos candidatos da chapa de oposição me colocou para raciocinar
quando questionou os gastos da chapa de situação com a postagem do seu plano de
gestão, bem como de uma carta escrita aos advogados para rebater sucessivos
vídeos anônimos (prestigiados por Adriano Zanotto, candidato à presidência da
OAB/SC).
Embora
nunca tenha me candidatado, acompanho eleições da OAB há aproximadamente 20
anos e sei bem que muitas vezes difíceis escolhas precisam ser feitas quanto
aos gastos de campanha, até porque é com o esforço pessoal dos próprios
candidatos que são definidos os orçamentos.
O
envio de materiais impressos pela via postal implica custos, mas é de longe a
forma mais eficaz de se levar informações relevantes aos eleitores (advogados,
no caso), uma vez que as redes sociais e os e-mails têm alcance muitíssimo
limitado, mesmo quando combinados com anúncios na mídia impressa. Certamente
por isso, nunca vi uma chapa (de situação ou oposição) deixar de enviar
material impresso aos advogados.
Recebi
o plano de gestão da chapa de situação. Lendo-o pude conhecer seus candidatos e
propostas.
Com
o questionamento feito pelo colega de oposição, somado ao fato de que a chapa
dele não entregou semelhante material até hoje, a um dia útil da eleição, ficou
claro para mim que os oposicionistas optaram por não enviar pelos Correios
informações sobre seus candidatos e propostas. Em princípio, nada a questionar
quanto a isso, até porque não conheço seu orçamento.
Por
outro lado, a chapa de oposição tem anunciado seguidamente no Diário
Catarinense, que tem os espaços publicitários mais caros do Estado. Em todos os
anúncios consta o nome de Adriano Zanotto e em muitos a sua fotografia, mas lá
não vejo os nomes e tampouco os currículos dos 106 candidatos da chapa. Também
não são vistas nos anúncios as 82 (segundo informado nas redes sociais)
propostas da chapa. Desconfio que na reta final da eleição haverá anúncios
similares em outros jornais além do Diário Catarinense.
Porque
uma coisa acaba levando a outra, acabei lembrando que, após ter renunciado à
presidência da OAB/SC em 2006, Adriano Zanotto tentou se eleger deputado
federal naquele mesmo ano, o que fez novamente nas eleições de 2010, em ambas
sem sucesso. Na primeira vez obteve 30 mil votos e na segunda a metade disso.
Desde então foi nomeado para diversos cargos políticos: Procurador Geral do
Estado, Diretor de Engenharia da SC Parcerias, chefe de gabinete do Prefeito de
Florianópolis e Presidente do IPREV, estes últimos incompatíveis com o
exercício da advocacia.
Em
suma, passou a viver de política.
É
o que bastou, em minha singela e muito particular opinião, para eu concluir que
a decisão de Adriano Zanotto de priorizar anúncios publicitários em detrimento
do envio de material impresso pode sim revelar uma intenção oculta, qual seja,
de expor seu nome e sua imagem de forma muito mais ampla (embora menos eficaz)
que a necessária, alcançando muito mais cidadãos não inscritos na OAB que
propriamente os votantes desta nossa eleição.
Para
mim, esta priorização revela muito mais o individualismo e o personalismo
exacerbados do candidato do que uma intenção verdadeira de se comunicar com os
advogados, de defender propostas e tornar conhecidos seus colegas de chapa.
Acredito
que o plano de Zanotto transcende os limites da eleição da OAB/SC,
principalmente porque nunca entendi a sua surpreendente candidatura, muito
menos após ele ter afirmado, no final do ano passado, que propositalmente se
afastou das atividades do Conselho Seccional, por admirar muito o trabalho que
lá é desenvolvido, reconhecendo inclusive que já é "praticamente dispensado de participar
dos debates".
Se
eu estiver certo, torna-se desimportante elocubrar sobre o acerto ou desacerto
da decisão de Adriano no âmbito da eleição da OAB/SC. O que importa realmente é
sabermos se ele foi justo com seus colegas de chapa, que assim não puderam
defender suas ideias e nem mesmo se apresentar ao grande conjunto de eleitores.
Só o tempo dirá se Adriano foi justo. E será necessário ainda mais tempo para sabermos se a sua escolha lhe rendeu frutos.
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